28.3.10

Fumador

Caro fumador ao volante:
O senhor não me conhece, mas eu conheço-o.
Ia atrás de si na EN125, há uns dias atrás, na hora de ponta.
Lembra-se, não se lembra? O trânsito ia no pára arranca e estava um temporal.
Enquanto avançamos lentamente num imenso espaço de luzes amarelas, tive bastantes minutos para o observar. Não foi o senhor , nem o seu carro e muito menos a sua condução que me despertou a atenção, mas sim o seu cigarro.
Que parvoíce andar a observar um cigarro, mas havia ali qualquer coisa, uma coisa estranha, na maneira como o segurava no lado de fora da janela, protegido pela sua mão em concha, talvez para o proteger do vento, ou de um encontrão. Qualquer coisa na maneira como o metia para dentro durante minutos suficientes para o atracar. E mais estranho ainda a maneira como virava a cabeça para deitar o fumo pela janela fora e como estendia o braço a cada meio minuto para deitar a cinza fora e bem para longe do seu novo Toyota 4Runner.
Percebo que não quisesse empestar o seu belo carro com o cheiro insuportável a tabaco. Se fosse a si fazia o mesmo, até porque eu não o suporto, por isso não o culpo, mas aquele cuidado com que o fez é que me deixou preocupada.
O tipo não vai – disse eu para mim mesma em voz alta – atirar aquela coisa pela janela fora, pois não?
Por alguma razão os carros vêm com cinzeiros. Os portugueses fumam mais de duzentos biliões – sim, biliões – de cigarros por ano, segundo o Departamento de Agricultura, quase todos eles com filtro.

(que parvoice, não podem usar os cinzeiros dos carros.)

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