Onde andas?

Ia a caminho da missa das cinco horas, como fazíamos todas as terças, mas estava tudo estranho.

O dia estava cinzento e chuvoso como no dia em que estavas esquisita, o sino da igreja tocava como se tu ainda cá estivesses e a filha da tia Jacinta, aquela lá da aldeiazinha, tinha um vestido branco igual àquele que tinhas vestido quando te foste embora.

Quando entrei na igreja todos choravam a angústia e o sofrimento da tua partida cá da terra.

Na missa não se falava de mais nada, onde andas? para onde foste? porque saíste daqui? Tantas perguntas, nós só queremos uma resposta.

Ontem andei a arrumar a gaveta das recordações, e encontrei os três rolos das fotografias, aqueles que naquele dia tu chegas-te ao meu encontro com uma máquina e seis rolos, para guardar-mos os momentos mais marcantes, talvez os mais bonitos, daquele dia e que depois dividimos três para mim e três para ti, apesar de terem sido mal divididos porque tu ficas-te com os melhores.

Vou revelá-los amanhã, mas vou pedir para me devolverem os rolos, porque neles ainda se encontra o teu cheiro, e quando a saudade apertar, tenho alguma coisa que me faça recordar mais de ti.

Gostava de te ter dito tanta coisa, antes de teres ido embora, agora não sei a quem dizer.

Não sei se foi melhor assim, mas deixaste-me sozinha, estou sozinha, e agora?

Não me chames egoísta nem má pessoa, mas tu eras uma grande amiga, quer dizer ainda és, mas devias ter-me avisado do que ias fazer.

Vejo os teus pais todos os dias, e todos os dias estão de preto, e muito tristes e magoados, estão sempre a dar-me beijinhos e abraços como faziam contigo.

Será que isto é um funeral ou uma partida para sempre?

Vou ponderar uma estadia eterna contigo, quer estejas onde estiveres.

Vou agora para casa.

Volta para nós, grande amiga.

Guarda-me um lugar por aí, ao teu lado.

(se a encontrarem digam-me.)