19.2.10

(...)
 Foi então que apreceu a raposa.
- Olá, bom dia! - disse a raposa.
- Olá, bom dia! - respondeu delicadamente a principezinho que se voltou mas não viu ninguém.
- Estou aqui - disse a voz - debaixo da macieira.
- Quem és tu? - perguntou o principezinho. - És bem bonita...
- Sou uma rapoza - disse a raposa.
- Anda brincar comigo - pediu-lhe o principezinho. - Estou tão triste...
- Não posso ir brincar contigo - disse a rapoza. - Não estou presa...
(...)
Mas pôs-se a pensar, a pensar, e acabou po perguntar:
- O que é que "estar preso" quer dizer?
(...)
- É uma coisa que toda a gente se esqueceu - disse a raposa. - Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.
- Laços?
- Sim, laços - disse a raposa. - Ora vê: por enquanto, para mim, tu não és senão um rapazinho perfeitamente igual a outros cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto, para ti, eu não sou senão uma raposa igual a outras cem mil raposas. Mas, se tu me prenderes a ti, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E, para ti, eu também passo a ser única no mundo...
(...)
A raposa calou-se e ficou a olhar durante muito tempo para o principezinho.
- Por favor... Prende-me a ti! - acabou finalmente por dizer.
(...)

O Principezinho,
de Antoine de Saint-Exupéry 

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